Dias de nada

 Os dias vazios findam-se em cinzas, apagados, regados por frustrações e pelos planos não acabados, restos de acontecimentos, sobras de não contentamento, vazios de significados e impregnados de dor. O sol se põe em luzes, cobrem de cores os horizontes, nem assim há a redenção, terminam marcados, o tempo acaba, nada significa, segue indiferente, descontente, porque também pensa que poderia ter feito acontecer. No fim dos dias tristes e vazios, só eu e você, o arrependimento, por não ter feito, inseguro e incapaz, fraco, sem forças para mudar. Nem a lua, marcando o fim do dia, em toda a sua beleza, faz apagar essa imensa angústia, sobre o dia que não aconteceu,  impressão que deixamos algo para trás, tempo que se foi, desperdiçado. Os dias vazios, na verdade, são cheios de vida, tem o tempo inteiro para se fazer acontecer, um capítulo espetacular e extraordinário nesse livro diário que denominamos vida. Dia de nada, marca o tempo num compasso diferente, especialmente para se lembrar, dos dias reservados à vida, do inesperado, aos momentos do simples prazer, surpreendentes e imprevisíveis, onde não esperamos nada acontecer, e são imensamente especiais. Amanhã, de novo, o sol em luz, vem e reassume o espetáculo solitário e exclusivo dos dias cheios de realizações e de acontecimentos,  findam cansados e compromissados, satisfeitos e realizados, mas acabam em uma saudade nostálgica do dia que não havia nada para acontecer, raro e intrigante prazer de não saber o que fazer, dia de nada, só viver. 

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