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Mostrando postagens de agosto, 2021

Não somos senhores das nossas memórias

 O que faz o coração doer de saudades, são as vivências que compartilhamos, coisas que a gente lembra e carrega no peito a necessidade de querer reviver, mais uma vez ter esse prazer, ainda que essas lembranças existam apenas no nosso imaginário, porque a importância deles não é a mesma, marcadores diferenciados para cada pessoa. A vida, sofre constantes mudanças, não somos senhores das nossas memórias, o espaço e os sentimentos tendem a ser modificados, só existem na nossa imaginação. E a gente pensa na morte como única responsável pelo fim desses momentos, dessas lembranças, quer de volta o instante perfeito, mas esquece que a maioria das coisas que temos saudades, são daquelas que não conseguimos reviver, porque a pessoa e o lugar sobre o qual temos saudades, não existem mais, não porque morreu, mas viveu demais. A morte de pessoas amadas trazem consigo o sofrimento da perda, a tristeza pela partida, o sentimento de que o todo nunca mais estará completo, mas por outro lado, essa mor

Cada um sabe o valor

 Cada pessoa, sabe de si, o valor que tem, mas representa coisas bem distintas entre uma e outra pessoa. Tem gente que enxerga em nós um oásis de paz no deserto, outros um vulcão em erupção, movimentação intensa. Tem aqueles, que desejam algo, pensam que podemos ajudar, outros que querem oferecer, se importam tanto que dão até o que não é necessário. Uns, sobem nas suas costas, enquanto alguns te carregam no colo, na hora de atravessar a ponte. Tem gente que atrapalha, outros, que são a salvação, não medem esforços. Tem gente que é prestativa, outros que é preguiça pura. Uns, querem sempre estar por perto, outros que não ligam para nada. Tem gente que sempre pergunta como você está, enquanto outros nem mensagens querem mandar. Tem gente que se importa, outras que tanto faz. Uns que foram, outros que ainda vão ser. Cada um dá e oferece aquilo que tem, divide apenas o que sobra e não vai entregar à você, nada além do que possui, portanto, não espere reciprocidade sobre os seus sentimento

Deep Web do coração

 Volto os olhos para dentro, busco os lugares escuros, o que não desejamos mostrar, esconderijos secretos, onde quase não se enxerga nada, deep web da mente, nesse local estão as nossas verdades, os desejos mais secretos, os sentimentos reais. Não posso dizer que o coração na sua parte rasa consiga guardar todos os sentimentos, é lá no fundo, no meio do lodo, nos cantos mais escuros, que realizamos o nosso verdadeiro eu, o nosso todo, que nos mostramos como realmente somos, sem máscaras. Quem somos longe das luzes ou dentro dos pensamentos, é que dizem a que viemos, é nessa escuridão de sentimentos que podemos assumir as nossas verdades,  falar das coisas escusas, sem filtros, só verdades e sem vergonha de se mostrar. Nas partes altas do nosso coração, estão os sorrisos, as gentilezas, o sim, a caridade, o amor, a resiliência, o perdão, o que é direito. Com o tempo, a gente vai descendo aos lugares mais escusos e consegue perceber que o "riso" está regado com lágrimas, que a

A medida exata

 Não sei dizer com exatidão quão necessários somos na vida de alguém, a dosagem exata para não sermos invasivos, passar da conta. A linha que separa o necessário daquilo que sobra, é pequena, por vezes, não enxergamos o limite e corremos o risco da invasão. Cada pessoa necessita de um tanto de nós, nada além do necessário, uma porção pequena geralmente e quando não compreendemos essa necessidade em números absolutos, nos tornamos inconvenientes, grudentos, queremos um pouco mais, além daquilo que desejam nos oferecer. Só queremos estar perto, e a gente não percebe que está sobrando, que não tem mais nada a oferecer nesse relacionamento e sofre, por insistir em continuar nessa etapa, em estar o tempo todo presente. A gente sente falta, no fundo, o que desejamos é que fosse possível manter dentro do nosso abraço, todos os que algum dia estiveram dentro deles, que nem um se perdesse no caminho e que os braços pudessem esticar todas as vezes que alguém entrasse dentro deles, sem a necessid

De repente

 De repente as coisas mudam de lugar, nos vemos em situações nunca antes imaginadas, com muitas possibilidades, mas presas pelas lembranças de outrora, temos dificuldades na imersão dessa nova realidade. Cabe aqui um lembrete, nada é eterno e há necessidade de transformação. Pessoas morrem, casamentos acabam, novos relacionamentos iniciam, mudamos de cidade, filhos seguem o caminho, deixamos de conviver com alguns amigos, dinheiro acaba, ganhamos na loteria, alguns ficam ricos, outros mais pobres, perdemos ou mudamos de emprego e de profissão, a gente se aposenta, muda de igreja. Envolvidos nesse turbilhão pelas quais todas as pessoas passam, corremos o risco de não conseguir se inserir nesse novo contexto porque não damos nenhuma chance,  a gente não se reconhece nesse espaço e não sabemos quem somos fora dele, ficamos perdidos, estranhamos o ambiente, não encontramos no corredor da casa a porta para a entrada ou saída. Quem eu era antes de tudo? Por qual motivo estou aqui? Por que a

Cascas de cebola

 Desfraldando com parcimônia as cascas de uma cebola, desnudando suas vestes, arrancando toda sua proteção, sendo despida por completo, observo detalhes que passam despercebidos aos olhos distraídos,  não enxergamos possibilidades, a natureza é sutil, camuflada sob as finas camadas estão o ser cebola por inteiro, corpo e alma desnudos, sem defesas. Cascas suaves e amareladas, no decorrer da ação vão se tornando rígidas, mudam de cor, o adocicado pode apresentar um leve ardor, boas  surpresas surgem nessa ação. A gente não sabe qual dessas cascas é ideal,  ou qual tem o melhor sabor, desconhecemos a quantidade de vezes que serão necessárias a manipulação até atingir a espessura adequada, algumas cebolas tem a casca fina, outras muito grossas, umas tem poucas camadas passíveis de serem retiradas, outras infinitas possibilidades. Quando arrancamos as camadas de cascas e alcançamos estágios mais avançados, descobrimos que nem todas são iguais,  não sabemos o sabor e a textura até que as úl