Casa vazia

A casa está vazia, não há movimento, senão o vento que adentra seu interior, balançando folhas, batendo as portas, trazendo um pouco da vida lá de fora. Os degraus na sala, engana aos desavisados, cuidado. Abre as suas portas, deixa eu também entrar, quero saber da sua vida, me conta sua história. Vejo você abandonada e me incomoda a sensação de impotência que tem diante do tempo. Alguém, em algum momento sonhou com você, planejou, construiu e viveu histórias felizes nesse lugar. Penso se alguém foi feliz aqui. A casa vazia, carrega uma tristeza, paira no ar uma falta de movimento, falta de vida,  destituída de toda a alegria dos momentos em família, vividos ali,  assim, sem habitantes, perde a imponência de tempos outrora. As portas largas, as paredes resistentes, os batentes largos em madeira maciça, ainda sustentam com firmeza os alicerces daquilo que um dia foi um lar. Os móveis e objetos carregam as marcas do tempo, um bom gosto mesclado a uma decadência eminente, não se rendem ao tempo, permanecem ali com firmeza, esperando a alegria voltar. O piso desgastado, de cerâmica cor de telha, já não impressionam pela beleza, carrega as marcas dos pés que por ali passaram,  os corredores imponentes, marcas de um tempo que o espaço não era importante, o cuidado aos detalhes da construção. Os azulejos desenhados com exclusividade, não encantam mais, não encontramos a beleza que havia em sua esplendorosa existência. A decoração, carente de uma repaginada, não encontra interessados em resgatar a sua exuberância. Quando a gente morre, desmorona consigo o seu castelo, morre ali todos os momentos vividos, deixamos para trás os objetos, as lembranças, e não há nada que possa fazer imortal as histórias vividas. Quando uma casa perde a essência, não são justificados os sacrifícios para manter os seus alicerces, já não há motivações ou sentimentos que resgatem a vida. A casa é de uma fidelidade sem precedentes, quando fica viúva, encerra o ciclo de uma vida, apaga as memórias, vive nas lembranças, antes que seja reconstruída para novas histórias.  Quando começar o novo ciclo essa mesma casa vai abrigar novos sonhos, apaga as memórias e planeja novas histórias.
Déa Corrêa

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