O verdadeiro caos somos nós

Tudo que queremos é ficar em casa.Tudo que desejamos é fazer o que gostamos, sem pensar até quando e que não tem hora para acabar. Um pouco de descanso, para ler muitos livros, aprender e aliviar o estresse. O chefe bem que poderia liberar o home office, tudo que necessitava, era de tempo para ficar com a família, poder ficar um pouco mais na cama e não ter que ir para o trabalho em alguns ou em todos os dias da semana. sonhamos com dois meses de férias no ano a vida inteira. Cancelar alguns compromissos e fugir do trânsito, todas as sextas. Almejamos maior participação do estado e a devolução em serviços, dos impostos que pagamos. Os estádios da copa, estão virando hospitais. A gente sempre achou que as comunidades carentes deveriam estar unidas para resolverem os seus problemas sociais sem muitas interferências do poder público, conquistar o seu espaço com esforço. Também pedimos pela diminuição da distância entre ricos e pobres e pela justiça social. Queremos ficar longe da aglomeração e do barulho, não suportamos tanta gente à volta. Para diminuir a poluição, teríamos que parar tudo por algum tempo, por muito tempo ansiamos por essas mudanças.
 O gênio atendeu aos anseios e liberou um grande lote de pedidos, salvo alguns erros pequenos de interpretação.
 Agora, é outra história, podemos ficar em casa, temos tempo para fazer o que gostamos, já não estamos estressados pelo excesso de trabalho, podemos ficar com a família, podemos pintar ou arrumar a casa, dormir tarde e acordar mais tarde ainda, cancelar os compromissos inadiáveis sem culpa, não vamos trabalhar e hoje é sexta-feira, estamos longe do barulho e da aglomeração, o virús não fez distinção entre pobres e ricos. Nunca vimos tão grande engajamento e envolvimento da sociedade na solução dos problemas.Viramos protagonista das histórias, donos da vida, senhores do nosso destino, a gente tem que ficar em casa, olha que maravilha. Mas, percebemos que o problema não era o trabalho, o problema não era falta de tempo, o problema não era as só pessoas, o problema não era o trânsito, o problema não era só a política, o problema não era a economia. O verdadeiro caos, somos nós, que não sabemos direito o que desejamos da vida, e não assumimos a responsabilidade individual sobre a solução desses problemas. A única certeza é que queremos perder o poder, não estamos preparados para essa tal liberdade, não gostamos de tomar as decisões, nossos pedidos estão em desacordo, houve algum equivoco, estamos devolvendo ao gênio, todos os desejos atendidos. Queremos a vida de volta,  imperfeita e cheia de defeitos, mas sem nada que queira mudar por enquanto, a gente era feliz e a situação atual nos faz refletir que continuamos murmurando e andando em círculos no deserto. Meu desejo, é que haja aprendizado e transformação, nunca mais seremos os mesmos nessa pós-quarentena.
Déa Corrêa