Boneca velha

Estou esquecida no canto. Não atraio a atenção como antes. Meu cabelo está opaco e sem brilho. Cara manchada. Minhas roupas já não encantam mais. Laços desfeitos. Passo despercebida, como se de um momento para outro não existisse mais. Foi emboras as lembranças e sumiu também a esperança que um dia possam voltar. Áureos tempos em que era desejada. Não se lembram dos meus dias de glória. Enchia de gozo todos os lugares. Quando foi que passei a ser invisível? Em algum momento esqueceram que já preenchi alguns espaços com a minha presença marcante. Você não lembra o quanto eu era querida? Esqueceu o dia que os seus olhos brilharam porque cheguei aqui? Não sei quando deixei de existir para você. Faz tão pouco tempo que me desejou ao seu lado. Não entendo o que aconteceu, alguém ocupou o espaço que era meu. Torno-me transparente, corpo sem vida, esquecida, sozinha, recolhendo algumas migalhas de atenção das crianças desavisadas, não sabem quem sou, e por uns instantes chegam para brincar, não percebem que já se foram meus encantos, sou apenas a boneca velha, esquecida no canto, esperando a criança desavisada chegar.

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