Cascas de cebola

 Desfraldando com parcimônia as cascas de uma cebola, desnudando suas vestes, arrancando toda sua proteção, sendo despida por completo, observo detalhes que passam despercebidos aos olhos distraídos,  não enxergamos possibilidades, a natureza é sutil, camuflada sob as finas camadas estão o ser cebola por inteiro, corpo e alma desnudos, sem defesas. Cascas suaves e amareladas, no decorrer da ação vão se tornando rígidas, mudam de cor, o adocicado pode apresentar um leve ardor, boas  surpresas surgem nessa ação. A gente não sabe qual dessas cascas é ideal,  ou qual tem o melhor sabor, desconhecemos a quantidade de vezes que serão necessárias a manipulação até atingir a espessura adequada, algumas cebolas tem a casca fina, outras muito grossas, umas tem poucas camadas passíveis de serem retiradas, outras infinitas possibilidades. Quando arrancamos as camadas de cascas e alcançamos estágios mais avançados, descobrimos que nem todas são iguais,  não sabemos o sabor e a textura até que as últimas folhas sejam arrancadas, umas dizem a que veio nas primeiras capas, outras que orientam que necessitamos cavar mais fundo. Não importa o tamanho ou idade da cebola, só enxergamos sua real situação, quando arrancamos a casca por inteiro. Algumas cascas externas bonitas, escondem partes impróprias para o consumo, enquanto outras mais feias externamente, por dentro estão em perfeitas condições.  A gente nunca sabe o que pode encontrar, importante é não comer, sem ter a certeza de que tirou todas as camadas podres, cebolas são imprevisíveis.

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